
As pessoas sorriam e cumprimentavam: “- Então quando é que nasce a criança!”
A resposta era sempre balbuciada da mesma maneira: ”- O médico diz que é para o fim do mês. Eu acho que nasce no dia 25 de Abril."
As pessoas gracejavam e comentavam, então vai ser um Zeca Afonso, contrapunha outra, não é, é uma Catarina Eufémia porque vai ser uma menina.
Sorria, encolhia os ombros e virava as costas. Em pensamento pedia a Deus que me ajudasse, fazia promessas (que tenho cumprido) para que a tão esperada hora passasse rápida e que o meu bebé nascesse saudável e sem problemas físicos.
Chegado o dia 25 de Abril. Dia festivo em que as multidões ainda se aglomeravam no Rossio de S. Brás, uma das praças da cidade de Évora. Mantendo a tradição, ainda que me custasse a andar, fui ver os espectáculos e o fogo de artifício.
Assim o dia passou devagar como o peso que sentia no ventre.
Batem as doze badaladas da meia-noite, pensei e comentei para mim: “No dia 25 de Abril já não nasce.” Ainda as palavras não tinham chegado à minha boca, quando desponta uma dor fortíssima que me cortou a respiração.
Daí até ao hospital foi um instante. As dores continuavam cada vez mais fortes. No hospital já de manhã pelas 8 horas, altura em que havia troca de turnos, a parteira incentivavam-me a não fazer força porque a dilatação ainda não era suficiente para o nascimento do bebé.
Ingénua não sabia que o turno dela terminara às 8 horas em ponto. Deixando para outra o árduo trabalho de assistir a um parto de uma adolescente que poderia ser muito complicado.
Foram horas longas de sofrimento, por fim, feita a dilatação e já sem dores foi chamado o obstetra, que a brincar e em amena cavaqueira me encorajava a fazer força para expulsar o bebé. Enquanto isso para me ajudar o obstetra fez um corte rectilíneo na região perineal (episiotomia). Então encorajada enchi os pulmões de ar, fechei os olhos e num ímpeto de força e raiva e nasceu a primeira complicação da minha vida. Nasceu com tanta força que parecia a rolha explosiva de uma garrafa de champanhe, que se abria para comemorar a ocasião que era mesmo festiva.
A “Complicaçãozinha” era um bebé lindo, rosado, grande (50cm) e gorducho com 3,550 gramas, já trazia na cabecinha a hereditariedade dos caracóis tão própria das complicações.
Desde então a partir das 11 horas da manhã do dia de 26 de Abril de 1979, adquiri o estatuto de mãe que só terminará no dia em que prestar contas a Deus pelos meus pecados cometidos ao longo da minha vida. Já lá vão 31 anos e ainda hoje conservo a imagem daquele quadro cor-de-rosa, da branca cama de hospital onde vi pela primeira vez a Complicações.
Há muitas coisas que o tempo apaga, mas o nascimento de um filho é uma coisa que perdurará até à extinção da nossa chama.
PARABÉNS MISS COMPLICAÇÕES “bebé”, um beijo, melhor, um dilúvio de beijos ************************************************************************************